Cooperação entre Brasil e Índia em ciência e tecnologia
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Publicado 25/10/2017 - 07h37

Cooperação entre Brasil e Índia em ciência e tecnologia

A Índia tem se mostrado um atraente parceiro para o Brasil em programas bilaterais em ciência, tecnologia e inovação.
Como ex-território do Império Britânico, a Índia é parte do Commonwealth, uma organização de Estados independentes os quais têm no passado imperial comum uma influência sobre suas histórias, idiomas e culturas. A partir do domínio britânico o idioma anglo-saxão se transformou num instrumento poderoso de integração da Índia ao mundo, uma região que sempre teve como desafio a co-existência de centenas de línguas tradicionais.
Obrigatório no ensino superior indiano, o Inglês é um elemento facilitador para que o Brasil estabeleça programas de cooperação com aquele país, dando acesso a uma rica variedade cultural e étnica.
A Índia talvez seja a pioneira global em termos do estabelecimento de uma universidade, um marco que contrasta com os evidentes desafios educacionais, sociais e culturais contemporâneos daquele país.
Os registros dão conta de que a “Universidade de Nalanda”, criada em 470 d.c., teria sido o sistema educacional mais antigo do mundo passível de ser classificado como “universidade”. Se a criação de Nalanda parece remota, imagine-se o Centro de Ensino Superior da antiga cidade de Taxila, estabelecido no século V a.c. Não obstante a anterioridade, não se sabe se o que existia em Taxila poderia ser chamado de universidade, como é o caso de Nalanda. De qualquer forma, é outra evidência impressionante da tradição indiana em termos de educação superior.
Na atualidade, a Índia tem sido capaz de formar profissionais de altíssimo nível, os quais vêm atuando em programas científicos e tecnológicos de grande impacto internacional. Muitos dos engenheiros, médicos e cientistas formados na Índia se espalharam pelo mundo, criando uma reputação positiva a respeito da capacidade desses profissionais.
A região de Campinas se beneficiou sobremaneira com imigrantes indianos que vieram contribuir para as empresas da região, bem como para o estabelecimento da própria Unicamp nas décadas de 70 e 80. Hoje são muitos indianos que enriquecem a região com sua cultura e excelência acadêmica.
A contribuição indiana para a sociedade brasileira se mostra concreta em várias áreas. Por exemplo, recentemente em um workshop realizado no Parque Tecnológico de Itaipu foi possível aprender que o coordenador geral do projeto daquela usina na década de 70 foi o engenheiro indiano Gurmukh Sarkaria, renomado especialista internacional da área de Hidroelétricas que, além de ter identificado o melhor local para a obra, introduziu o conceito inovador de “estruturas catedrais” no projeto da barragem. Esse conceito representou uma grande economia de concreto durante a construção, resultando em uma estrutura segura e funcional que hoje é um legado perene para todos os brasileiros e paraguaios.
A capacidade da Índia em C&T pode ser constatada de diversas formas. Por exemplo, detém um robusto programa nuclear, desenvolvido localmente, que compreende dezenas de usinas nucleares baseadas em tecnologia própria. A Índia desenvolve submarinos nucleares e possui capacidade de bombas atômicas desde a década de 70. O programa espacial indiano é bem sucedido e bastante ambicioso. No campo da pesquisa básica podemos citar o telescópio Chandra, desenvolvido com tecnologias comparáveis ou superiores às usadas no telescópio Hubble. Hoje, indianos colecionam mais de uma dezena de prêmios Nobel.
A área de tecnologia da informação se destaca pelo pólo tecnológico localizado em Bangalore, no Sul do País, o qual atrai grandes empresas de tecnologia, sendo conhecida como o Vale do Silício da Índia.
Com filiais distribuídas pelo país, destaca-se o Centro para o Desenvolvimento de Computação Avançada (CDAC), ligado ao Ministério de Eletrônica e Tecnologia da Informação, o qual realiza pesquisas em TI, eletrônica e área correlatas. O CDAC é uma instituição dinâmica, que se transforma continuamente em função da rápida evolução da área de informática.
O CDAC permanece como um dos principais centros de desenvolvimento da tecnologia de computação de alto desempenho no mundo, tendo iniciado suas atividades no final da década de 80 como resposta aos embargos dos Estados Unidos à exportação de supercomputadores para a Índia. Além disso, o CDAC se destaca mundialmente por conta da tecnologia de tradução de idiomas, a qual contribui para que os próprios indianos, falantes de centenas de línguas, possam se comunicar.
Entre os idiomas atendidos pelo CDAC estão: Odia, Sindhi, Malayalam, Punjabi, Kannada, Bengali, Assamese, Marathi, Bodo, Tamil, Telugu, Kashmiri, Nepali, Maithili, Urdu, Santali, Konkani, Dogri, Manipuri, Gujarati e Sânscrito. O que torna o desafio do CDAC ainda mais interessante é que cada um desses idiomas tem um alfabeto próprio. Os CDs de referência para essas línguas estão disponíveis no CTI Renato Archer para a consulta de eventuais interessados.
Foi com o objetivo de aproveitar sinergias que o Brasil e a Índia assinaram em 2006 um importante Acordo de Cooperação Científica e Tecnológica, o qual foi recentemente reforçado pela visita do Ministro de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) àquele país, no início de 2017.
Na condição de integrante do MCTIC e, portanto, seu representante na cidade de Campinas, o CTI Renato Archer é a instituição local que faz com que os benefícios deste acordo internacional cheguem à região, razão pela qual está à disposição para outras instituições que estejam buscando oportunidades de P&D com a Índia.
(Agradeço à contribuição de Bharat Parmar, executivo indo-brasileiro radicado na cidade de Campinas, com grande experiência em projetos de cooperação com Índia para o desenvolvimento de software)