Reflexões a respeito das colaborações internacionais em pesquisa
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Publicado 02/10/2017 - 07h49

Reflexões a respeito das colaborações internacionais em pesquisa

O que é possível fazer para fortalecer a colaboração entre cientistas brasileiros e estrangeiros? Evidentemente, a resposta para essa pergunta não é simples. Na realidade, uma pergunta mais geral que se poderia fazer é: quais são as formas mais eficazes de semear parcerias frutíferas com grupos de pesquisa e colegas de outros países a fim de colher benefícios para o desenvolvimento científico de regiões emergentes? A colaboração internacional, cada vez mais buscada para melhorar a produtividade (mas também o impacto e a relevância), supera os resultados de trabalhos individuais ou de parcerias somente locais. Ela está ocorrendo mais naturalmente como resultado de encontros em workshops internacionais, conferências e simpósios. Além disso, ajudam a facilitar a colaboração fatores como a afinidade cultural entre os pesquisadores, a existência de recursos direcionados a estudos cooperativos, e níveis comparáveis de excelência acadêmica e desenvolvimento tecnológico, que contribuem para uma pesquisa conjunta de alto nível. Nos últimos anos, a Internet e outros recursos de tecnologia da informação favoreceram claramente a comunicação de longa distância entre cientistas; no entanto, o que é importante destacar, a maioria das colaborações só se inicia depois que as partes estabelecem contato pessoal.
Apesar da evidência clara de que a cooperação pode ser altamente benéfica, há um longo caminho a ser percorrido até que uma parceria funcione tranquila e produtivamente. Com grande frequência, mal-entendidos, diferenças na linguagem técnica, expectativas irrealistas, capacidades não correspondentes e burocracia excessiva comprometem os passos para a criação de uma cooperação efetiva. Esses obstáculos levam a frustração, desperdício de recursos e perda de oportunidades.
Um relatório do Global Science Forum da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) fornece uma valiosa visão geral sobre boas-práticas e algumas sugestões concretas para fortalecer colaborações. O relatório enfatiza a contribuição do trabalho colaborativo para a construção da capacidade de pesquisa de cada parceiro, considerada o mais importante impacto de longo prazo dos programas de cooperação financiados por agências de fomento. Ele também enfatiza a necessidade de alcançar um “(...) um equilíbrio ótimo entre os imperativos da pesquisa – iniciativas ‘de baixo para cima’ (bottom-up), revisão por pares, etc. – e prioridades estratégicas de desenvolvimento ‘de cima para baixo’ (top-down)”. O relatório salienta, ainda, que se deve prestar atenção desde o início à forma com que os resultados de qualquer colaboração em potencial serão avaliados – seja em termos científicos ou sociais – a como eles serão comunicados aos formuladores de políticas e ao público em geral. Algumas das ideias apresentadas são menos óbvias, mas também muito importantes. Por exemplo, o relatório destaca a importância de um contexto de políticas favorável à colaboração em pesquisa, enfatizando o papel que os governos podem desempenhar no à redução de barreiras e à diminuição da burocracia. O texto alerta, ademais, para o perigo de depender de apoio político, em particular no caso de situações instáveis em que tal apoio pode desaparecer do dia para a noite devido a alguma mudança no governo, como infelizmente ocorre com mais frequência do que deveria.
Em um mundo sedento por conhecimento novo e inovação, há lições importantes sendo aprendidas sobre os fatores que se combinam para a obtenção de ótimos resultados em termos de colaboração em pesquisa.
Adaptado de “Thoughts on International Research collaboration”
https://www.insidehighered.com/blogs/world-view/thoughts-international-research-collaboration (13 de abril de 2016).