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Publicado 30/10/2017 - 10h39
A escassez de professores universitários no Brasil
Há muitos desafios no cenário do ensino superior brasileiro, incluindo acesso, êxito e qualidade, entre outros. Contudo, o ciclo de expansão e o crescimento econômico que ocorreram no Brasil há alguns anos enfrentaram diversos obstáculos. A situação tornou-se particularmente complicada em aéreas em que faltam profissionais no país, como nas engenharias. O mercado paga consideravelmente mais do que as universidades, em especial quando se trata de salários iniciais para jovens profissionais. Além disso, nas universidades públicas é praticamente obrigatório que candidatos a cargos docentes possuam, no mínimo, diploma de doutor, para o que são necessários vários anos de estudo, seguidos por um período de pesquisa, durante o qual se recebe, no máximo, uma bolsa de valor não muito elevado. Na verdade, há também um número limitado de potenciais estudantes de pós-graduação nas áreas mais carentes de profissionais qualificados, o que cria um círculo vicioso do qual é difícil sair.
Algumas notícias recentes confirmaram que muitas universidades estão realmente lutando com a falta de potenciais professores. Conforme mencionado anteriormente, este problema é uma clara consequência da recente expansão do sistema de ensino superior, assim como da crise econômica que estamos vivendo. No entanto, deve-se mencionar que as regras do setor também desempenham papel importante nesta questão. Os salários são fixos e iguais em todas as universidades públicas do mesmo tipo (essencialmente nas universidades federais e estaduais), e não é possível oferecer incentivos ou salários diferenciados para pessoas ou áreas especificas. No caso das universidades particulares, os salários são guiados pelo mercado, porém empregam-se várias estratégias para reduzir custos, tais como o uso extensivo do pagamento por hora trabalhada, e professores menos qualificados (embora os processos de acreditação e avaliação tentem empurrá-las para a direção oposta).
Poucas universidades no Brasil estão respondendo à escassez de professores em áreas específicas como uma ocasião para atraírem profissionais estrangeiros, seja de outros países da América Latina, ou de Portugal e Espanha, por exemplo. Embora existam obstáculos à internacionalização do ensino superior no Brasil, a falta de professores locais poderia de fato alavancar políticas direcionadas a uma participação efetiva de estrangeiros nos corpos docentes das universidades brasileiras. A internacionalização do professorado, que já se provou benéfica em outros países, certamente adicionaria uma dimensão importante ao ensino superior no Brasil no século XXI.
Adaptado de “Brazil's Shortage of Professors” (01/06/2014), Inside Higher Education, https://www.insidehighered.com/blogs/world-view/brazils-shortage-professors