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Publicado 15/12/2017 - 07h10
Boca a Boca!
Aqui trago informações sobre o funcionamento da boca na fase oral e a relação entre esse importante estágio e a sustentabilidade afetiva na vida adulta. Assim, ressalto a importância dos nossos sentidos, uma espécie de GPS do campo emocional.
Como já escrevi em colunas anteriores, a experiência de cada um durante a fase oral (que acontece no primeiro ano de vida) reflete nas relações da vida, na capacidade de buscar o que se precisa e na confiança básica para as ações futuras. Se falta alimento, contato com a mãe, afeto e proteção nesta etapa da vida é bem provável que a vítima dessas ausências tenha pouca maturidade para se relacionar, descrença no amor, dificuldade de lidar com frustrações e pouca estrutura emocional. Além de poder apresentar problemas de autoestima, inveja corriqueira, quadros maníacos, compulsão, ou algum tipo de vício.
Os pensamentos “não consigo” e “preciso de ajuda” ou o contrário, “não preciso de ajuda”, são frequentes para essas pessoas, que não raro sofrem de algum tipo de depressão. Coincidência ou não (eu creio que não é), os remédios antidepressivos são os mais vendidos no mundo hoje. A falta ou o excesso de amor ou proteção na fase oral podem resultar em depressão, dependência, ansiedade ou agressividade oral.
Pessoas que no primeiro ano de vida tiveram excesso de preenchimento alimentar ou emocional durante um tempo e o perderam de supetão (como pode acontecer no caso de um desmame brusco) correm o risco de usar a raiva como resposta à depressão. Ou seja: a repressão da depressão se manifesta com a raiva. Quem sofre bloqueios ou faltas na fase oral é comumente uma pessoa insatisfeita, reclamona, impotente, desorganizada, do estilo que só sabe se relacionar de forma dependente. Ou é exatamente o oposto disso: raivosa e reativa, que quando deixada pela pessoa amada, pode reagir com orgulho e desprezo, dizendo se bastar. São, enfim, pessoas que evitam o sentir.
E quantas pessoas assim existem? Quanto a nossa sociedade está assim? Em um cenário contemporâneo de tantas faltas e violências é praxe comportar-se com negação, raiva, sem sentimento, sem sentir. O sucesso de vendas dos antidepressivos está aí para provar a atual situação do ser humano. Por isso é fundamental o conhecimento sobre os benefícios e malefícios desta fase de desenvolvimento do aleitamento, da nutriçãofísica e emocional no primeiro ano de vida. Só com informação e cuidados, as crianças do futuro poderão conservar a alegria de viver neste planeta.
O aleitamento deficitário ou prolongado traz sequelas marcantes para a nossa existência. A fase da dentição também é de grande influência no futuro emocional do bebê. Quando os dentes aparecem é o momento de fazer funcionar a boca e os dentes, e não só de sugar. Manter o bebê sugando é o mesmo que prolongar uma falsa dependência materna, e isso vai contra a natureza, fazendo com que o bebê deixe de desenvolver sua função natural de morder, mastigar, cuspir e agir ,podendo provocar o sentimento de incompetência e incapacidade. No futuro essa privação de explorar e dar uso a mordida e aos dentes pode resultar em comportamento passivo, dependente e facilmente manipulável. Sabe os puxa sacos, os que seguem líderes extremistas, os acomodados? Pois bem, o bebê que tem dente mas só suga pode ser um desses tipos no futuro.
É bom lembrar que os dentes têm mais funções além de morder, mastigar e nutrir. A sedução (sorriso) e a defesa (mostrar os dentes ou morder) dependem dos dentes, portanto precisamos respeitá-los quando entram em funcionamento em nossas vidas e não negá-los. Restringir a alimentação do bebê com dentição ao aleitamento é ensiná-lo inconscientemente que a sugação é sua única fonte de nutrição e vida, e o resultado pode ser vampirismo e pobreza de Ser no futuro. E, consequentemente, o prolongamento de um sistema de troca doente ( e muito comum em nossa sociedade), em que alguns fazem a força e outros dependem dela.
Mas há outras doenças relacionadas à falta de mordidas na fase oral, como gengivite, piorréia, cárie e estomatites. Essas patologias podem ser resultantes da dificuldade desta pessoa de morder no primeiro ano de vida. O bloqueio do maxilar não deixa a energia chegar aos dentes e assim favorece o aparecimento das bactérias. O esforço para aceitar a dificuldade e engolir é necessário e característica fundamental e natural desta fase, que irá se refletir no desenvolvimento emocional e comportamental do bebê. Quem não aprende a morder quando deve, corre o risco de não saber morder ( de garantir) suas fatias de vida.
Não é à toa que as crianças costumam se identificar como leão, urso e tubarão nas brincadeiras. Esses animais de mordidas poderosas dão à elas a oportunidade de se sentirem fortes, capazes de morder, atacar e exprimir sua destrutividade oral infantil que é a raiva. Na vida adulta, exemplos de destrutividade oral são as compulsões, a já citada depressão, a mania de usar palavras cortantes, dizer coisas ácidas ou irônicas, e também a anorexia ou bulimia.
Hoje é bem difícil encontrar uma pessoa que não tenha traços orais ou que tenha superado esta fase de desenvolvimento ligado a boca.Por isso é sempre bom se perguntar: sua criança interna é feliz e preenchida ou vive lhe aprontando? Como você lida com sua agressividade? Você sente que vive a vida de alegria e satisfação ou é praxe se queixar de tudo ou excomungar outros ou a própria sombra? Vive irritado(a)? Tem mais o sentimento de perda ou de excesso? Quando vê a garrafa de vinho pela metade, comemora que há meia garrafa, ou lamenta que sobrou pouco? Como sente o gosto de sua vida?
A solução destes aspectos de base infantil oral é fundamental para sua qualidade de comunicação na vida e sua sustentabilidade afetiva. Preste mais atenção à sua boca, e consequentemente ao seu comportamento e às suas emoções.
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