A família do século XXI
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Publicado 22/12/2017 - 10h30

A família do século XXI

Insisto em continuar a falar sobre a falta do tempo interno e externo que acarretaram em uma sociedade líquida, sem contornos, sem limites e sem referências.E ainda sobre os efeitos da falta de relação interna e interpessoal ( depressão, compulsão) e das maquiagens mais comuns usadas para disfarçar essas faltas ( hiperconsumo, valorização do ter e não do ser).
Quando não olha para si, e quando não se relaciona, o ser humano impede a evolução, vive apenas instantes, lida apenas com o imediato, como se fosse um réptil. Exercita o cérebro reptiliano (o cérebro primitivo que luta pela sobrevivência), mas não o emocional.
Age, enfim, por instantes e impulsos. Nessa metodologia está inconscientemente tentando suprir a necessidade de sentir, uma vez que ignora os sinais do corpo, o sensorial. Nessa levada, torna-se egoísta, irritado, raso. Explosivo. Os valores do Ter definem o Ser nos tempos atuais. E se cada indivíduo é assim, pense na reunião deles, na família. A pessoa sem tempo para ela, não tem tempo para os outros.
A falência da família é uma realidade atual. A família encolheu, a taxa de natalidade caiu, as crianças ficam mais com as babás, em creches e escolas do que com os pais. Eles ( pai e mãe) trabalham em jornadas cada vez mais extensas e não têm tempo para os filhos. Quando chegam em casa -   já cansados  e também culpados pela falta de tempo – compensam os filhos com presentes, sentem dificuldade de dizer não e cedem ao choro, à birra, à qualquer reclamação da criança. Não raro os pais usam os presentes para contornar essas situações e ignoram o sentido delas.
Neste cenário real, os pais se ocupam cada vez menos com os cuidados iniciais da criança. E você sabe, como já abordei em colunas anteriores, o tempo interno é desenhado logo na primeira infância. Os primeiros cuidados, portanto, são de extrema importância para o futuro dessas crianças que tem o quarto abarrotado de brinquedos, bonecas e joguinhos, e sem nenhum limite e afeto.
E , então, a criança cresce um pouco e ganha tablets, celulares, computadores e uma infinidade de roupas e acessórios de grifes... para se entreter. Assim aprende a confundir o Ter com o Ser ou o sentir. Acostuma-se com a sensação falsa e momentânea de serem importantes e amados por terem muito. Enquanto os pais sentem-se aliviados por achar que nada faltou ao seu filho. O resultado são jovens sem limites, com pouca tolerância ao não, que compensam a falta de afeto com o consumo. Jovens que preencherão qualquer vazio com uma boa compra. Jovens que perpetuarão o Ter ao Ser, individualistas e egoístas, e futuros adultos imaturos, violentos e insuportáveis, sem habilidades relacionais e preconceituosos com o diferente. E tudo isso por causa do furto do tempo interno e externo, o maior agressor das relações afetivas.
A atual educação aberta parece que não tem limites e que o educador permite tudo. Cada sociedade produz os tipos para sua sobrevivência! O tipo atual, que tem a mídia como referência e mestre, é o Borderline, que vive na fronteira entre a realidade e a fantasia. Nossas crianças estudam em colégios bilíngües, fazem atividades muito interessantes, são precoces em tecnologia, em inteligência cognitiva. Mas elas sabem sentir? Ensinamos elas a olhar para os sentimentos delas e respeitar os dos outros e os outros? Ensinamos a ela a empatia? Elas sabem se relacionar ou enxergam o outro como inimigo? Tem prazer ou medo de se aproximar de outras pessoas e se relacionar? São analfabetas emocionais? Assumem suas responsabilidades? Sabem lidar com frustrações ou se irritam diante de qualquer obstáculo? Elas refletem a sua falta de tempo? A falta de tempo dos pais delas? Vão herdar isso?
Sem dúvidas nossas crianças são muito espertas. E são mais livres. Contudo, o mundo precisa de mais sentir, de sentimentos. Não são elas, as crianças, as responsáveis por resgatar o sentimento, as relações, o sentir. Mas elas podem brecar a impulsividade, o comportamento reptiliano e a involução caso aprendam o valor da inteligência emocional e a riqueza das relações. E isso elas não irão aprender em frente às telas ( da TV, do Game, do iPad), e sim com pais responsáveis, que não projetam seus problemas na sociedade ou nos outros por saberem que essa é uma atitude infantil, e portanto exclusiva das crianças.Você é um pai/mãe maduro? Ensine seu filho a preservar o tempo. Não furte o tempo dele. Se fez mal a você...pois é.
Invista na educação de seus filhos: na acadêmica e na emocional. De nada adianta ele se comunicar em muitas línguas e não se relacionar em nenhuma delas. Qual o valor de ele ter uma boa condição financeira ( para comprar e comprar) e não ter base emocional e afetiva?