Por 313 dias de prazer e responsabilidade
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Publicado 02/02/2018 - 09h59

Por 313 dias de prazer e responsabilidade

É quarta-feira de cinzas. E o ano de fato começa no Brasil, país conhecido por realizar a maior festa de carnaval do planeta, e também por ter seu tempo e ritmo determinado por ela. Enquanto os dias de expressar alegria e prazer sem culpa não se encerram no calendário, a rotina considerada séria não tem vez por aqui. Sendo o carnaval uma de nossas maiores expressões culturais, não é à toa a conexão imediata entre o Brasil e o prazer e as liberações de toda sorte. Contudo, o carnaval não é coisa nossa. Tem origem nas festas pagãs da Grécia Antiga, que cultuavam o Deus Dionísio com orgias, muitos comes e bebes e a exaltação do corpo como objeto de prazer.
Por isso o carnaval é sinônimo de extravagância e da busca incessante do prazer pelo prazer. Mas nem só de festa e folia é feito o carnaval. O evento tem o importante poder de descarregar tensões, frustrações, camuflar as faltas e privações, as diferenças e as injustiças sociais. De compensar as cargas árduas e pesadas da luta pela sobrevivência. É um momento de igualdade, onde as diferenças étnicas, sociais e religiosas convivem com harmonia e respeito formando assim um grande  corpo popular coletivo de muitas fantasias, cores e alegorias. E aí, vem a quarta-feira de cinzas e a rica e respeitosa conduta social é guardada no bolso, junto com a liberdade do prazer sem culpa. Todo ano é assim.
Como permitir que este corpo alegre e festivo possa ser constante em nosso coletivo social, sem exageros? Como você pode se sustentar afetivamente de forma madura e responsável pra se permitir a  alegria e prazer durante  todo o ano e não apenas por quatro dias? Como distribuir a energia da alegria e  do entusiasmo durante  todo o ano , sem ter culpa de expressar o prazer?
O homem, por essência, é um ser emocional que busca o prazer e evita a dor. No entanto, nos 361 dias de não carnaval, muitas vezes nos martirizamos por causa desta natureza. No Brasil, durante o intervalo entre o final do ano e o carnaval, bebemos demais, comemos demais, prorrogamos nossas responsabilidades para depois da quarta-feira de cinzas. E esse adiamento faz com que responsabilidades banais fiquem pesadas, e com que a culpa seja inerente aos prazeres momentâneos pós-festas. Uma combinação perigosa que gera medos e preocupações. Mas que pode ser evitada.
Se durante o carnaval ultrapassamos os limites e exageramos a irresponsabilidade, no decorrer do calendário, fazemos o contrário. E isso acaba por nos trazer um sentimento de mal estar. Resultado: quando nos permitimos a liberação do prazer parece que estamos errando de alguma forma e merecendo punição...vem a tal da culpa.
A culpa no mundo adulto significa pagar contas pelo erro cometido. É o sentimento infantil de quem se sente onipotente. Já a responsabilidade é o sentimento adulto  maduro, ciente das faltas, erros e deveres sem a exclusão do prazer.
Assim, para sustentar o prazer e a alegria e enfrentar as frustrações e dores que acontecem durante o ano é preciso estar atento à sua realidade e enfrentá-la sem idealizações  ou fantasia, por mais dolorida ou prazerosa que ela seja. Este pode ser o seu porto seguro,  seu ponto de partida para a sustentabilidade afetiva: a sua realidade olhada e interpretada com clareza por você.
 
Desta forma, você poderá sentir o seu limite, respeitá-lo e ter o potencial de poder viver o  seu prazer sem culpa, uma vez que você se sentirá responsável por suas obrigações, e igualmente pelo seu prazer e liberdade. Uma pessoa saudável não dramatiza nem nega sua realidade e tem consciência de que tem obrigações e responsabilidades e que pode ter satisfação e prazer, e ainda assim enfrentar a dor. Ter ciência de seus limites, saber quando está chegando a sua borda, é o melhor caminho para ser livre e entusiasmado com a vida. Nos próximos 313 dias do ano, arque com suas responsabilidades, enfrente a dor, e não proíba o prazer e a alegria de viver. Respeite-se mais. E tenha um ano novo maravilhoso!