DAR TEMPO AO TEMPO___ E ÀS NOSSAS CRIANÇAS
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Publicado 30/03/2018 - 15h08

DAR TEMPO AO TEMPO___ E ÀS NOSSAS CRIANÇAS

Já vai tempo que criança não brinca mais na rua, nem sobe mais em árvores, nem inventa seus brinquedos. Temos excessos de coisas, as telas brilham e o celular, notebook, televisão de plasma, câmera digital, entre outros, toma o tempo, o interesse delas e – confessemos – nos dão tempo livre. Horrível ler isso? Pois pensar e usar esse artifício também é. Porque a velocidade tecnológica, onde o orgânico se rarefaz, onde nos colocamos acima do tempo, gera compulsão , impaciência e uma relação distorcida com o tempo.
Ok, a batalha com os eletrônicos é difícil. Mas não impossível. Só lembrar quem dá a educação e que recebe. E incentivar as brincadeiras espontâneas, permitindo e encorajando a criança a se arriscar a esfolar-se, a explorar. Digo isso porque além da competição com os gadgets vejo que crianças brincam menos porque para os pais as brincadeiras convencionais, ok, até vintages, se tornaram inseguras na modernidade. Basta pensar na vigilância excessiva e controlada dos adultos , que sob o argumento de serem precavidos, equipam-se de manuais de como controlar e educar de seus filhos com segurança. Porque em um mundo de incertezas a segurança vira pretexto para tudo. Porém, nem tudo é segurança, muitas coisas soam como segurança, enquanto são o contrário.
Um exemplo? O sentir real. Falo de ter a sensibilidade de sentir a criança e o adolescente na intimidade verdadeira, para, então perceber o que ele de fato precisa e não tem. E péssima notícia: às vezes não dá para dar ele também. Não estou falando de consumo, mas de emoções, comportamento, desejos. De um acolhimento real.
Dar o melhor ao seu filho não é só oferecer a oportunidade dele aprender duas línguas , algumas vezes, ainda na fralda. Será que é isso que o deixará mesmo mais preparado para o futuro? Ou será essa escolha ou efeito da ansiedade crônica atual que nos motiva a chegar o mais rápido possível ao futuro? É interessante refletir individualmente. Cada casa, um caso. Mas coloque na balança: a ideia da superpreparação para o incerto não é uma ilusão? Não é também fazê-los crescer mais rápido do que o tempo natural? Só as crianças estão no tempo virtual ( e irreal) todo tempo? Ou estamos todos, incluindo eu que escrevo aqui...?
Penso que as crianças precisam se arriscar mais. E nós adultos também. Segurança é essencial, tombos elementares para o progresso individual. Arriscar-se é colocar-se à prova. Permitir sentir, sair da inércia do “tem que”. Às vezes dói, em outras é só delícia. Se eu puder dar um conselho, é o seguinte: experimente mais, conecte-se menos às regras e gadgets. Afinal, no plano não virtual, o controle nem sempre está nas pontas de nossos dedos. E , no fim, humanos que somos, lidamos melhor com adversidades do que com bugs tecnológicos. Os primeiros nos engrandecem, os segundos nos tiram do sério...