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Publicado 06/04/2018 - 07h27
PORQUE (TAMBÉM SABEMOS) DAR TEMPO AO TEMPO
Nas últimas semanas tenho abordado a velocidade do tempo virtual ( e irreal) que transborda para a nossa vida fora das telas e nos preenche de ansiedade e angústia. Falei sobre sentir o tempo e não se furtar principalmente daquele que deve ser dedicado às relações humanas, parentais, para a nutrição do amor humano.
Hoje é dia de abordar nutrição e tempo. Em meio a correria do dia a dia, da moda e da falsa necessidade dos mil aplicativos, da febre das mensagens instantâneas (e, muitas vezes, ilusoriamente urgentes), há uma corrente de comportamento muito em voga e que vai na direção contrária. Não por acaso, em uma época de vazio, essa boa onda é sobre alimentação. Estou falando do boom dos orgânicos, das preocupações em ingerir o que é da terra e da terra sem defensivos. Claro, tem a ver com saúde, principalmente, mas também com consciência, com ecologia (agricultura florestal, sintrópica) , com escolhas políticas (pequenos agricultores ao invés de produtores gigantes) e, ressalto, com a valorização daquilo que respeita o tempo da natureza. Leva-se mais tempo para colher, há mais cuidado para plantar, mais respeito com o que é da terra, do mundo, nosso. Levando em conta a nossa realidade, trata-se de um paradoxo interessante, não?
No exato momento em que nos rendemos ao tempo veloz e irreal do universo tech, em que perdemos a noção do tempo real, do ritmo da natureza (onde tudo deve nascer, crescer, se separar e morrer), em que crianças devem crescer rápido, em que o futuro é muito mais interessante que o presente...nesse momento, há essa vontade de resgatar a nossa nutrição por meio dos frutos do tempo de raiz, original , relacional e interno, em que a semente germina, a planta tem tempo de crescer e o fruto tem tempo de amadurecer...
Há uma vontade de respeitar e de entender esse tempo, de se nutrir dele. Pode ser parte de um processo comportamental cíclico. Prefiro enxergar como uma semente de mudança, que levará seu tempo para germinar, com respeito. Não se trata de involução, de abdicar das tecnologias ( há muitos apps a serviço do pequeno agricultor orgânico, do consumidor e do entusiasta)...se trata de evolução e respeito, sem extremismos, com equilíbrio e maior flexibilidade.
Convido você a estender o conceito do tempo dos alimentos orgânicos para a mesa (coma mais devagar) e para a vida. Aos poucos. De maneira sazional, sem ansiedade. Se topar o convite, vou adorar saber de seus efeitos, na próxima estação. Sim, porque é preciso tempo para a mudanças. E para a vida. Boa semana.