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Publicado 27/04/2018 - 07h29
PARE DE TOMAR A PÍLULA (versão 2018)
Estamos na cultura do minuto. Hoje o transtorno de atenção e de hiperatividade (TDAH) e o transtorno de atenção (TDA), são os distúrbios que mais refletem o nosso sistema social acelerado, exigente e intolerante.
Você sabe da quantidade de crianças e jovens, diagnosticados com TDAH e TDA, e medicados com estimulantes como Adderal? É crescente. A ideia é que eles possam ser mais tolerantes a dor física, mais atentos e mais metódicos , e assim conseguirem resistir e dedicar tempo à coisas ditas “chatas e desinteressantes”... o filme "Take your pills" é um retrato da situação dos nossos jovens estudantes.
Eles procuram por estimulantes cerebrais como esse em busca de melhor performance, notas mais altas, sucesso. E um dos efeitos colaterais não descritos na bula é preocupante : competitividade desenfreada, em um mundo altamente veloz, e, você sabe, irreal. É a droga do super-herói, alguns dizem. Muito usada até por (muitos) que não têm qualquer transtorno. Ou seja “compradas” com e sem receita médica. Como? Pais e até colegas “conseguem” a fórmula para quem julga (ou julgam) precisar. Tudo isto com prescrição médica, jeitinho e interesse da indústria farmacêutica.
E nem só a supracitada droga está em cena. São algumas: Ritalina, Anfetamina, Concerta. Todas apelidadas de “crack universitário” porque causam dependência. E rápido. Trata-se de um grande problema da sociedade atual. Tanto pelo fácil acesso, quanto pela quantidade de diagnósticos idênticos. Afinal, será que realmente todos sofrem de TDAH ou TDA?
Ou será que apenas não conseguem enfrentar a pressão de dar conta do recado? Ou será que só estão iludidos com a chance de resultados imediatos? Ou será que apenas não sabem como tolerar a frustração e transformá-la num degrau para o sucesso real? Há a questão da cultura atual, evidentemente e principalmente. O não falhar é regra. O fazer rápido também. O fazer melhor, idem. Tem que: ser melhor, vencer se destacar ... e rápido.
Nessa fantasia da realidade que começa e termina em um clique, sem estrutura emocional e sem orientação, sem limites, o prejuízo se dá. É individual ( de cada medicado), é coletivo (da sociedade) . É triste. Prejudica o sono, abala a autoestima ( que é falsamente estimulada com os resultados conquistados de maneira igualmente irreal), causa dependência química, psicológica, comportamental, pois o uso do estimulante é essencial para se sentirem potentes e competentes e assim se expressarem no mundo.
Prejudica também a criatividade, a consciência crítica, a reflexão, o relaxamento. Impede a escolha de ser protagonista de sua vida, algo que Hamlet ensinou ainda na idade média. Ser ou não ser. Ser de verdade ou de mentira. E pensar que os campus já foram o lugar das drogas recreativas e naturais. Agora são das prescritas, carimbadas e cruéis.