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Publicado 04/05/2018 - 07h15
Comunicar é preciso
O assunto de hoje é dolorido, é tabu e é urgente. O suicídio é a segunda causa de morte mais frequente entre os jovens (de 12 e 19 anos) no mundo -- e tem crescido nos últimos anos no Brasil. Recentemente, em um espaço de dez dias, dois adolescentes abreviaram a sua vida, em São Paulo.
Segundo Karina Fukumitsu, especialista em processo de luto por suicídio, tanto o acolhimento como as conversas são fundamentais para que pais e professores possam identificar vulnerabilidade nos adolescentes e assim trabalhar na prevenção destes comportamentos. Ela diz : “o suicídio é um ato de comunicação, a pessoa comunica em morte o que não consegue comunicar em vida".
Sim, a adolescência é um período complexo, de muitas variáveis: marca a afirmação da identidade pessoal, sexual e social da pessoa no mundo. Logo, a busca é por pertencimento, identificação, acolhimento, escuta, motivação, afirmação e expressão. Some o julgamento a essa fase de tanta transformação. E ainda a frustração. Ou melhor, a tolerância a frustração, tão rara no contemporâneo, o da ilusão da resolução de um clique.
"A pessoa que se mata não tem tolerância", afirma Karina Fukumitsu. Eu acrescento que além de intolerante, é possível que haja fragilidade ou ausência de relações, de intimidade real, de contato, de acolhimento, de aceitação e do reconhecimento necessário para Existir e Ser. Digo isso porque são necessidades essenciais para formação estrutural de personalidade, verdadeiramente essenciais. Principalmente nos dias atuais, em que, indiferente a idade, há o medo de não existir, a falta do olhar do outro, o narcisismo. Lembrando que o outro é quem ajuda o EU a Ser e a constituir-se.
Por isso, é preciso olhar com atenção extra às habilidades sociais, tais como, cooperação, empatia e flexibilidade. Esse é o caminho para erradicar a intolerância, os julgamentos, a valorização do superficial. Para uma nova era, mais próspera, em que a tecnologia será tão festejada e valorizadas, quanto a sensibilidade, logo as diferenças.
Tecnologia, sim. É inevitável abordá-la sempre. Ela é protagonista do contemporâneo, mudou o fluxo e a velocidade da nossa pulsação, da nossa vida. É sim uma revolução. Positiva. E negativa também, porque assim é a nossa existência: feita de altos e baixos. E carente de contato. De discernimento entre o real e o virtual ( e aí estão desafios como o 13 reasons why ou jogo da baleia azul, como tristíssimos exemplos). É urgente nos diferenciarmos dos cérebros eletrônicos.
Não somos produtivos como eles, não precisamos ter a performance que eles têm (notas altas, domínio de idiomas, rapidez) e devemos celebrar (muito ) o fato de eles não terem a capacidade crucial da existência humana : a do Sentir. Só nós temos. Só nós podemos fazê-la crescer mais e mais.
Acredito que é tempo de refletirmos (nós, pais, família, educadores): o que estamos fazendo pelo nosso futuro , quem serão estes jovens no futuro? E para responder a isso é preciso olhar para o presente. Com calma, tolerância, amor, empatia. Com tempo e contato. Voz e escuta. Se necessário, em momentos de desconexão digital, e conexão exclusivamente pessoal. Parece cliché, não é. Experimente.