EQUÍVOCOS DA MODERNIDADE: POSTO, LOGO EXISTO. SIGO, LOGO SOU
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Publicado 21/05/2018 - 08h49

EQUÍVOCOS DA MODERNIDADE: POSTO, LOGO EXISTO. SIGO, LOGO SOU

Estamos em uma (triste) era narcísica. O narcisismo nos impede de amar plenamente, uma vez que Narciso amava só a si. E seria bom se essa fosse a única confusão comportamental ou de valores do agora já. A doentia obsessão pela imagem, principalmente pela do corpo, é interpretada como cuidado com a saúde. E é o contrário: uma insanidade, com excesso de malhação, dietas malucas, e hábitos que são seguidos e divulgados como se fossem uma religião. Quem malha mais e come menos, tem mais seguidores, estende seus segundos de fama... virtual, diga-se.
Nesse cenário, o “diga quantos seguem você e eu direi quem és” é uma nova moeda. Blogueiras e digital influencer oportunamente fazem dinheiro e carreira em cima desta realidade. Quanto mais ditam como vestir, aonde ir ,o que comer, qual tratamento estético realizar, mais fama ( ou autoridade) ganham. São elas que ditam a beleza ideal, que é a delas, conquistada com laser, botox , preenchimento, plásticas, lipoaspiração ( que é uma grande piração) e demais procedimentos estéticos...
Quase nada mais há, além da imagem: ser gordo virou heresia, ter celulite e flacidez são pecados mortais.
A ideia de uma aparência eternamente jovem é dividida, cultivada, multiplicada, tão irreal quanto os tratamentos e filtros de imagem, e totalmente vazia. Envelhecer naturalmente é quase uma contravenção dentro desse universo. Resultado: nos tornamos onipotentes e prepotentes, pois estamos todos moldados nesta cultura centrada no ego, no agora e no imediato, no meu, no ter e no obter.
Consequentemente, estamos perdendo o espaço do sentir, que exige tempo, cuidado, intensidade e entrega. Os relacionamentos e as amizades se tornaram secundários, o "outro" e o "coletivo", só existem na fala. Na prática está o “posto, logo existo”. “faço igual, logo sou”. Ou seja, o egoísmo, a superficialidade, a alienação... e as decorrentes dores e infelicidades. Por que dor e infelicidade? Porque vive-se um equívoco material –corporal, que ilude com a oportunidade de uma auto-imagem perfeita, da deusa, da divina, ou da plena, para usar termos usados em posts.
É ingratidão com a vida sentir o corpo deste modo tão superficial, com muito apego ao físico e a forma e quase nenhuma inteligência emocional. A qualidade de vida não pode ser medida pelo corpo perfeito, pela eterna juventude e nem pela sua conta bancária, ou coleção de looks. O preenchimento que vale apena é o afetivo e não o estético. É o que diz respeito aos seus vínculos, amores, paixões e razões. É o que faz sentido, que sela a intimidade e a intensidade da vida viva, real. Vida perecível, sim. E que por isso deve ser gozada com intensidade e amor, a si, ao mundo, a todos. E sem a necessidade de um post para comprovar sua valia.