Cem anos da Reforma Universitária de Córdoba
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Publicado 18/06/2018 - 12h32

Cem anos da Reforma Universitária de Córdoba

Tive a satisfação de participar dos festejos dos 100 anos da reforma universitária de Córdoba, realizados durante a III Conferência Regional de Educação Superior na América Latina e no Caribe (CRES 2018), realizada entre 11 e 15 de junho de 2018, na própria Universidade de Córdoba. A conferência reafirmou o sentido da educação como um direito humano, um bem público e uma responsabilidade social dos Estados. Essa conferência pretendeu discutir um plano de ação para a próxima década, sendo uma reunião preparatória para a Conferência Mundial sobre o Ensino Superior que ocorrerá em 2019 em Paris. Foi a terceira edição da CRES, sendo as anteriores em Havana, Cuba, em 1996 e em Cartagena das Índias, Colômbia, em 2008. Na conferência participei de uma mesa redonda sobre “Inovação tecnológica e desenvolvimento sócio produtivo”, com colegas da Colômbia, Argentina e Chile.
A Reforma Universitária de Córdoba de 1918 impactou significativamente as Universidades da América Latina e do mundo. Nessa época existiam entre os estudantes argentinos diversas inquietudes direcionadas à transformação da sociedade, e eclodiu na Universidade de Córdoba, fundada em 1613, e que mantinha, como muitas outras universidades no início do século XX, diversas normas e procedimentos incompatíveis com a realidade daquele momento. A luta estudantil começou em 1917 na Faculdade de Medicina, que tinha suspendido o internato no Hospital de Clínicas. O movimento cresceu, e além desta demanda foram somadas outras reinvindicações que exigiam reformas acadêmicas e mais democracia na tomada de decisões.
Os estudantes organizaram o Comitê Pro-Reforma Universitária e a Federação de Estudantes de Argentina, com representantes de diversas universidades do país. Eles realizaram diversas greves e paralizações, sendo que o movimento teve a sua máxima expressão no dia 21 de junho de 1918, com a publicação na Gazeta Universitária do Manifesto Liminar, que ficou sendo a plataforma do movimento (ver uma tradução ao português aqui: https://midiaindependente.org/pt/blue/2007/10/399447.shtml).
Dentre as conquistas alcançadas, podemos destacar: a Autonomia Universitária, que permitiu escolher as autoridades e permitiu, em nível interno, planejar os programas de estudo sem intervenção dos governos de plantão; o co-governo, que ocorreu através da criação de órgãos de representação, onde a voz das distintas categorias seria considerada; liberdade de cátedra, onde os docentes poderiam ensinar sem censuras, situação que havia levado anteriormente à expulsão de professores; foi proclamada a missão social da universidade, que hoje se traduz na extensão universitária, de modo muito geral.
Após 100 anos da reforma universitária de Córdoba podemos dizer que os estudantes orientaram com sua luta o caminho da educação superior, e postularam princípios democráticos e acadêmicos que estão vigentes em quase todos os centros de educação pública do mundo, levando a uma melhoria dessas instituições. Naturalmente, o século XXI nos impõe novos desafios, com a necessidade de seguir avançando para redefinir uma nova ideia de universidade na américa latina.
Para ver um artigo mais completo sobre a Reforma de Córdoba, veja: http://www.gr.unicamp.br/ceav/revistaensinosuperior/ed03_junho2011/pdf/10.pdf