O todo é maior do que a soma das partes
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Publicado 27/08/2018 - 08h06

O todo é maior do que a soma das partes

É natural que as pessoas, quando imersas em seus afazeres e compenetradas nos detalhes de uma determinada atividade profissional, percam a noção de como seus resultados poderiam se integrar a outros para formar um todo mais amplo e rico do que a intenção original.
Isto também acontece, em certa medida, com instituições de pesquisa com missão delimitada e definida.
Uma instituição de pesquisa pública, como o Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer, por exemplo, tem suas áreas de atuação muito explicitamente definidas em seu Regimento Interno e, assim, é natural que a dedicação da sua equipe focalize tais áreas. Este direcionamento à missão evita que a instituição entre em rotas erráticas, o que implicaria em um indesejado uso ineficiente dos recursos públicos alocados.
Portanto, o direcionamento é necessário porque as instituições públicas têm recursos limitados e não podem abraçar todos os temas de pesquisa e desenvolvimento (P&D), sob pena de não terem fôlego para entregar resultados apropriáveis pela sociedade.
Por outro lado, uma excessiva focalização pode resultar em perda de oportunidades, porque é comum a atividade de P&D gerar resultados que podem ser usados pelas mais variadas áreas e nem sempre a proposta inicial, que motivou a pesquisa, consegue antecipar estas oportunidades. A focalização excessiva, que pode resultar em isolamento, dificulta também o aporte de recursos financeiros, humanos, intelectuais e culturais por parte da sociedade, que pode não compreender o papel daquela instituição. O isolamento prejudica também a disponibilização de infraestrutura laboratorial por outras partes interessadas, que poderiam contribuir para atingir o resultado almejado e também propiciar rotas derivativas.
Existe uma forma de tirar proveito da objetividade advinda da focalização das instituições, sem prejuízo para uma visão mais ampla sobre como aproveitar seus resultados.
Quando instituições com missões bem definidas e complementares coabitam um câmpus, fazendo com que seus membros compartilhem espaços de convivência, a troca de informações, de conhecimentos, saberes e competências, mesmo no âmbito informal, tende a aumentar a probabilidade de aproveitamento dos resultados de formas inusitadas. Este compartilhamento é um caminho natural para se alcançar inovações disruptivas.
Portanto, a coexistência de instituições no mesmo espaço físico é uma excelente forma de estimular tais resultados inesperados, conduzindo à ideia de que o “todo é maior que a soma das partes”, uma máxima decorrente da gestalt. É das sinergias resultantes dos esforços multi-institucionais e da riqueza e da diversidade humana em convívio que se pode esperar o que há de melhor na pesquisa científica. Os exemplos neste sentido são numerosos e cada dia mais frequentes.
Mas é possível que alguém pergunte: num mundo em que a interação virtual é cada vez mais intensa, haveria a necessidade dessa atuação fisicamente próxima para promover a almejada sinergia? Afinal, por meio da internet, as distâncias podem ser anuladas e a presença virtual pode ser tão intensa quanto a real.
Mas, a atividade de P&D nem sempre pode ser realizada virtualmente, porque é comum que este tipo de atividade dependa do uso presencial de laboratórios de alto custo de implantação e operação, nos quais atuam equipes altamente especializadas. Portanto, o compartilhamento dessas infraestruturas, além da sinergia no aproveitamento de resultados, promove uma otimização de recursos. Em outras palavras, equipes que teriam o desempenho limitado pela falta de recursos para infraestrutura, num esforço multi-institucional, adquirem a capacidade de explorar o máximo de seu potencial em benefício de todo o desenvolvimento científico e tecnológico.
Em outra coluna deste espaço (“Laboratórios Abertos: a busca por mais eficiência”), mencionei que as infraestruturas de pesquisa costumam ter um certo grau de ociosidade e descrevi um modelo de operação voltado para seu uso mais eficiente: o Laboratório Aberto. Ao integrar mais instituições neste modelo, é possível reduzir ainda mais esta ociosidade e, melhor ainda, racionalizar e otimizar o conjunto de recursos disponibilizados na sinergia.
Em suma, a ideia de estimular e efetivar “esforços multi-institucionais” tem como vantagens:
A) a promoção de sinergias, que permite o aproveitamento mútuo de resultados de pesquisas, potencializando inovações disruptivas;
B) a promoção do uso racional da infraestrutura, reduzindo ociosidade e aumentando o aproveitamento;
C) o compartilhamento dos custos da infraestrutura, tornando mais eficiente o uso de recursos, dentre outros benefícios, associados ou correlatos
Desde 2012, o CTI Renato Archer vem desenvolvendo um novo conceito de compartilhamento de infraestrutura que explora tal conjunto de vantagens.
Este conceito vem sendo reconhecido na cidade de Campinas pelo epíteto de “Complexo Tecnológico Educacional (CTE)”, o qual se consolidou através do estabelecimento de múltiplos convênios entre as seguintes instituições: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia São Paulo, Câmpus Campinas (IFSP), Fundação de Apoio à Capacitação em Tecnologia da Informação (FACTI), Parque Tecnológico do CTI (CTI-Tec) e Centro Nacional de Referência em Tecnologia Assistiva (CNRTA).
A presença do Instituto Federal São Paulo no câmpus do CTI dá uma característica peculiar a este esforço multi-institucional: a capacidade de formação de recursos humanos.
O principal ativo de qualquer atividade de pesquisa são os pesquisadores e pesquisadoras. Por mais custosa que seja a infraestrutura de pesquisa, o corpo de pesquisadores será sempre o principal valor da organização. Por isso, ao atrair uma escola para suas premissas, o CTI acabou ganhando uma nova fonte inestimável de profissionais de alta qualidade.
Em termos de qualidade, o IFSP se diferencia tanto no ensino superior quanto no técnico de nível médio, o que pode ser atestado pela relação candidato/vaga em seus vestibulares e pelo alto grau de empregabilidade de seus egressos.
Para a cidade de Campinas e sua região metropolitana (RMC), a consolidação do conceito de CTE através de sua possível formalização institucional, representa uma das melhores notícias para o ambiente de inovação da cidade e região, oferecendo para os jovens uma oportunidade singular de envolvimento com um ambiente vibrante de pesquisa e desenvolvimento e tudo de bom que disto decorre.
Em 2019 o CTE poderá entrar em uma nova fase, com a atração de mais entidades para o câmpus do CTI, especialmente no setor educacional e produtivo. É para isso que a equipe do CTI Renato Archer tem trabalhado com afinco, através de uma interação muito forte com o IFSP e, principalmente, com a UNICAMP, que tem sido uma contribuinte de primeira hora para a criação deste novo conceito para a cidade.
Aliás, para que se faça justiça à história, deve-se registrar que o CTI é um “spin-off” da UNICAMP. Em suas origens está o trabalho de planejamento de professores daquela instituição, o qual é a gênese de tudo que o CTI conquistou ao longo de seus 35 anos de existência.