Museus de Ciência nos EUA
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Publicado 21/11/2018 - 10h27

Museus de Ciência nos EUA

Há uma enorme discussão nos EUA sobre a questão da educação, e em particular, sobre a educação em ciências. Há uma contradição importante no sistema educacional norte-americano, pois não existem parâmetros curriculares nacionais mínimos, que são determinados localmente. Em outras palavras, cada comunidade, ou cada estado, determina o que os estudantes aprendem. Cada estado faz o seu teste, e os resultados são diversos. Quando os resultados desses testes são comparados com os pouquíssimos dados de alguns testes nacionais ou internacionais (como o PISA, por exemplo), o resultado é considerado um desastre. Os estados que têm uma educação em ciências mais fraca, por exemplo, realizam testes mais fáceis, e têm um bom desempenho nos exames locais, mas péssimo desempenho nos nacionais. 
Na área de educação não-formal a situação é também bastante complexa e interessante. O fato das escolas terem que ter um bom desempenho nos exames tem inibido visitas extracurriculares a centros e museus de ciências. Estes, por sua vez, vivem o dilema diário de sobreviver, e precisam desesperadoramente mais público. É difícil também congregar todos esses centros e museus em um único corpo, pois eles são muito heterogêneos. Há museus que dependem muito de público escolar (chegando até aproximadamente 60% do público, como o New York Hall of Sciences), mas outros que dependem quase que exclusivamente do público avulso (como o Sciencenter de Ithaca, NY, por exemplo, que têm apenas 10% de público escolar). Há poucos museus que recebem auxilio das cidades ou do governo do estado (como o Museu de Ciências de St. Louis, ou o Museu de Ciências de Denver, por exemplo), mas a maioria não recebe nenhum tipo de suporte governamental. Quase todos os Museus dependem de projetos submetidos à National Science Foundation (NSF) (entre 10 a 20% do orçamento), e essencialmente dependem de ingressos do público e de vendas em suas lojas e restaurantes. Finalmente, uma fonte fundamental de recursos provém da filantropia, uma área extremamente desenvolvida nos EUA. As doações de pessoas físicas ou apoios de empresas, entretanto, geralmente destinam-se à ampliação dos prédios, ou novas construções. Isso tem gerado uma situação sem limites, pois as ampliações implicam em custos mais elevados para a manutenção e para infraestrutura, que somente aumentam. Desse modo, vários museus têm crescido, e alguns deles alcançam orçamento de mais de 35 milhões de dólares anuais (como o Museu da Ciência e Indústria de Chicago, e o Museu de Ciências de Boston, por exemplo). Para sustentar tais orçamentos, os Museus têm que atrair mais e mais público, e naturalmente vivem uma situação de tensão constante, à procura de exposições blockbusters e de formas alternativas de conseguir mais recursos. E assim tornam-se excessivamente comerciais, e acabam divergindo de sua missão natural de divulgar a ciência com qualidade, de realizar pesquisas na área de comunicação pública da ciência, de inovar nas práticas e nos programas de educação de ciências. Não sei até que ponto essa situação irá se sustentar, mas a minha sensação é que a maioria dos Museus e Centros de Ciências nos EUA encontram-se em um equilíbrio instável, e que bastaria uma leve recessão financeira, por exemplo, para criar enormes dificuldades de sobrevivência.
No entanto, é um setor que movimenta bilhões de dólares anuais, e que é fundamental para o desenvolvimento cultural e científico dos EUA. Por aqui, ainda temos estruturas muito frágeis de apoio para a divulgação científica, e o número de museus de ciência, e a sua luta diária pela sobrevivência, está chegando ao limite. Aqui naturalmente foquei na questão dos museus de ciência, mas como todos sabem, também se aplica para outras instituições de importância fundamental para a cultura de um país que busca, a duras penas, consolidar a sua memória e ter uma população que possa pensar criticamente sobre as decisões que afetam não só a gente, mas também as futuras gerações.