
Publicado 28/03/2019 - 14h25
Militares russos na Venezuela ameaçam a paz na região
Ao maior isolamento do ditador Nicolás Maduro tem correspondido a um aumento da tensão e da violência do regime contra os opositores.
Os coletivos chavistas, paramilitares armados pelo governo, neste final de março atacaram com violência o carro em que se encontrava o líder opositor Juan Guaidó. Ao mesmo tempo cercaram durante horas a Assembleia Nacional, de maioria oposicionista, agredindo jornalistas internacionais e parlamentares.
Na noite do dia 26 de março, os coletivos cercaram a casa de Leopoldo López. Os homens armados com paus e pedras gritavam insultos e faziam ameaças à família – mulher e três filhos – criando um ambiente de terror agravado pelo apagão que afetava toda a Venezuela.
Leopoldo López foi sentenciado a 14 anos de prisão pela justiça controlada por Maduro, vários dos quais foram passados no cárcere, sendo-lhe concedido prisão domiciliar após intensa pressão pela sua libertação. Está a cinco anos em prisão domiciliar incomunicável.
Essa liderança oposicionista se transformou numa referência na luta contra a ditadura venezuelana. Sua estratégia de protestos pacíficos com objetivo de desalojar o chavismo do governo rendeu-lhe a represália do regime. Juan Guaidó é seu herdeiro político, ambos pertencem ao partido Vontade Popular. Uma das ameaças que Maduro faz com frequência a Guaidó é retirar López da prisão domiciliar e mandá-lo de volta ao presídio.
Nicolás Maduro tem perdido apoio nas camadas mais populares que lhe eram fiéis por estar desmoronando um sistema assistencialista que não consegue se manter devido à queda da produção de petróleo. Mesmo as caixas de alimentos que minguam a cada dia não têm lhe assegurado apoio, pois as más condições de vida afetam a vida das pessoas em diversos aspectos de sua existência. Além da falta de comida, faltam medicamentos, o transporte é precário, a segurança inexistente e se sucedem com mais frequência os apagões de energia.
Ao isolamento internacional do regime se soma o isolamento interno tornando-se a violência seu último recurso que pode levar a Venezuela a uma guerra civil de trágicas proporções.
É sintomático o crescente apoio militar russo ao regime. No início de janeiro deste ano chegaram a Caracas mercenários que prestam serviços ao governo russo pretensamente para proteger Nicolás Maduro. São homens altamente treinados e que foram largamente utilizados nos confrontos na Ucrânia e na guerra da Síria.
A chegada a Caracas no fim da semana passada, 23 de março de dois aviões do exército russo carregados com pessoal – um general e cem soldados - e material militar foram motivo de todo tipo de especulações, reavivando o temor de uma escalada com implicações desastrosas para a região.
Desde janeiro deste ano, quando Juan Guaidó se declarou presidente interino acusando Maduro de “usurpador”, o país esteve no centro das tensões globais e sendo motivo do aumento da rivalidade entre Estados Unidos, que apoiam Guaidó e Rússia, que mantém a aposta na continuidade de Maduro.
O aumento da presença militar russa é preocupante porque Moscou vem de um experiencia exitosa no apoio ao ditador Sírio, Bashar Al-Assad, que profundamente isolado, saiu-se vitorioso numa guerra que contou com forte apoio militar russo.
Vladimir Putin tem privilegiado a opção militar na afirmação de sua política expansionista. A anexação da Criméia e a ocupação de parte do território Ucraniano no Leste do país são dois exemplos a mais de valorização da opção militar.
A manutenção de um território sob a sua influência na América do Sul, pode ser um trampolim para aumento da sua influencia na região, por isso é vantajoso para Moscou apoiar Maduro valendo esforço e empenho militar para que se consolide. Essa escalada pode insuflar a animosidade de militares norte-americano que não tolerariam essa presença nas Américas.
A presença militar russa para apoiar Maduro pode justificar um apoio militar ostensivo a Juan Guaidó reconhecido pelos Estados Unidos e mais cinquenta países, inclusive o Brasil.
Num eventual conflito o Brasil tende a não ficar neutro, o que é evidenciado pelas posições do bolsonarismo de alinhamento ideológico incondicional os Estados Unidos.
A possibilidade do conflito é real e tende a afetar cada vez mais a política interna no país. Atualmente essa situação é alimentada pelos boatos que circulam no Congresso de que caso ocorra um conflito será uma oportunidade para Jair Bolsonaro decretar estado de sítio e governar com o executivo, calando o Congresso e o Judiciário. Certamente esse é o sonho do atual presidente.